Typhoid Mary e o novo Coronavírus

Esses tempos de pandemia e os pacientes que testam positivo e fogem do hospital ou saem da quarentena para passear, fazer churrasco ou viajar tem me lembrado de Mary Mallon, a Typhoid Mary.

Mary Mallon migrou da Irlanda para a América do Norte em 1883 e teve febre tifoide de baixa gravidade. Como não tinha nenhuma especialização passou a trabalhar como empregada doméstica, e como cozinheira.

Durante este período dezenas as pessoas dessas famílias ficaram doentes e pelo menos uma pessoa morreu.

Uma das famílias começou uma investigação, a febre tifoide não era comum na região, e em 1907 foi publicado o resultado no Journal of the American Medical Association. Seu autor, o investigador especializado na doença George Soper, concluiu que Mary era o foco de infecção, uma portadora assintomática, que não sentia os efeitos da doença, mas era altamente contagiosa. Continuar lendo

Espécies não existem! Como assim?!?!?

Nós, seres humanos, somos catalogadores compulsivos. É nossa natureza dar nomes às coisas (obrigado, Genesis..:-), e estabelecer parâmetros de definição, isso é isso e aquilo é aquilo. O mundo a nossa volta colabora, muitas vezes, com essa obsessão, apresentando coisas que são, claramente, distintas, e nomear coisas, entender suas diferenças, ajudou muito nossa sobrevivência como espécie. Vemos algo e tentamos classificar.

Carl Nilsson Linnæus, em português Carlos Lineu

Seres vivos, por exemplo. Embora desde a antiguidade tenhamos percebido semelhanças entre alguns tipos de seres, parecia claro que havia classes distintas, que chamamos hoje de espécies. Carlos Lineu (foto ao lado) catalogou de forma bem precisa, apenas com base em dados aparentes, os milhares de espécies conhecidas.

Dessa forma em nossa mente, um cavalo é um cavalo, um porco é um porco, uma mosca é uma mosca, e assim por diante. São espécies, grupos de indivíduos idênticos e pertencentes a uma única classificação, separados dos outros tipos.

Isso funcionou bem até a chegada de Darwin e a Teoria da Evolução. Com esse novo conhecimento entendemos, finalmente, que cada indivíduo, cada espécie, está ligado por uma sequência contínua a todas as outras, em diversas e múltiplas linhagens pelo tempo.

Uma imagem que ajuda a entender essa questão é apresentada por Dawkins, e vem bem a calhar para ilustrar essa ligação. Eu usei o exemplo no post “Se a evolução é real, por que nenhum chimpanzé evoluiu até ser como nós?” e reproduzo aqui (o texto a seguir é meu, baseado na idéia de Dawkins):

“Vou usar uma imagem que acho muito interessante, criada por Dawkins: Imagine uma menina segurando a mão de sua mãe, em uma praia africana, na Somália (o “chifre” da África). Sua mãe por sua vez segura na outra mão sua própria mãe, avó da menina (são sempre mulheres, pois é mais fácil seguir o DNA mitocondrial pelos milênios).

Cada mulher segura em uma mão a filha, e em outra sua mãe, sempre se afastando da praia. A cada passo, uma nova geração de antepassados Continuar lendo

Sobre Relógios e Átomos – Parte 3

Com tantas formas de marcar o tempo e datar eventos, objetos, restos de seres vivos e rochas, ainda assim há quem “duvide” desses dados. Como as datações feitas pela ciência costumam destruir as afirmações da crença, é sempre difícil para quem crê aceitar essas informações.

Assim, seria interessante se houvesse uma forma de “datar” seres vivos a partir de sua própria natureza, algo “dentro” deles que permitissem saber quando uma espécie se separou de outra, há quanto tempo, qual a distância em termos de parentesco, etc.

E existe. Não seria necessário, mas existe, devido à forma como a evolução se dá e ao sistema de informação dentro de cada célula, o DNA.

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Sobre Relógios e Átomos – Parte 2

E chegamos ao átomo. Entre as muitas conquistas intelectuais e científicas da humanidade, acho que a teoria atômica é central, e uma das mais importantes (ao lado da Teoria da Evolução, certamente..:-). Descobrir do que é feita a matéria ao nosso redor foi um passo impressionante para o conhecimento humano, ainda mais se considerarmos a dificuldade de lidar com um microcosmo praticamente invisível, fora do alcance de nossos sentidos e da maioria de nossa tecnologia.

 

História do Átomo

O caminho até o conhecimento atual sobre o átomo é fascinante, pelo menos para mim. A história da descoberta, e domínio, do átomo e da matéria, me parece uma das maiores sagas de nossa espécie, e uma conquista intelectual sem igual. Começando com Demócrito, e sua visão espantosamente arrojada de um pedaço de matéria indivisível, até nosso atual conceito de matéria, que envolve partículas e subpartículas, caminhamos muito, e fomos muito longe, para entender melhor do que este universo é formado.

“Mas, ao se dividir o átomo de ferro final, ele deixa de existir” Continuar lendo

Sobre Relógios e Átomos – Parte 1

Nos dias de hoje marcamos o tempo com tal facilidade, que parece algo natural – e fácil – saber as horas com precisão. Olhamos no relógio de pulso, no celular ou ao redor, procurando um relógio de parede. Podemos ver as horas na tela da TV ou perguntar a alguém ao lado, e rapidamente descobrimos o quanto estamos atrasados para os compromissos de nossa vida moderna.

 

Mas marcar o tempo, saber as horas, foi um grande problema por quase toda nossa história. Ou pelo menos, a partir do momento em que saber as horas tornou-se importante para nossa espécie.

 

O problema de saber as horas com precisão tornou-se dramático no tempo das grandes navegações. Saber as horas significava saber onde se estava, no mundo, e poder voltar para casa com segurança.

 

 

 

“Mapas têm sido desenhados desde a antiguidade, cada vez mais complexos e precisos”

 

Para entender esse problema, sério problema, precisamos entender como sabemos onde estamos em termos de espaço, no mundo. Onde eu estou, onde você está, e como podemos determinar isso com precisão? E, claro, sem um GPS..:-)

 

Eu estou em Atibaia, e você, se souber onde está e onde fica Atibaia (um mapa serviria), pode me encontrar ou me dizer como encontrar você. Mas, em terra firme e com um mapa, e com posições conhecidas, é fácil. Claro que desenhar o mapa e as posições conhecidas levou tempo e esforço, mas não exige muito mais que tempo e esforço. Mapas têm sido desenhados desde a antiguidade, cada vez mais complexos e precisos. Continuar lendo