Typhoid Mary e o novo Coronavírus

Esses tempos de pandemia e os pacientes que testam positivo e fogem do hospital ou saem da quarentena para passear, fazer churrasco ou viajar tem me lembrado de Mary Mallon, a Typhoid Mary.

Mary Mallon migrou da Irlanda para a América do Norte em 1883 e teve febre tifoide de baixa gravidade. Como não tinha nenhuma especialização passou a trabalhar como empregada doméstica, e como cozinheira.

Durante este período dezenas as pessoas dessas famílias ficaram doentes e pelo menos uma pessoa morreu.

Uma das famílias começou uma investigação, a febre tifoide não era comum na região, e em 1907 foi publicado o resultado no Journal of the American Medical Association. Seu autor, o investigador especializado na doença George Soper, concluiu que Mary era o foco de infecção, uma portadora assintomática, que não sentia os efeitos da doença, mas era altamente contagiosa.

Na época Mary trabalhava para uma família em Park Avenue e duas das empregadas haviam sido hospitalizadas e a filha da família havia morrido.

Ela foi colocada em quarentena, quer dizer, uma quarentena de 3 anos em isolamento. Em algum momento as autoridades concordaram em liberar Mary desde que ela parasse de cozinhar profissionalmente e tomasse medidas de segurança para evitar infectar outros.

A história de Mary fica mais interessante a seguir. Ela, inicialmente, passou a trabalhar em lavanderias. Mas não gostou, mudou seu nome para Mary Brown e desapareceu.

Retornando a sua profissão de escolha, ela trabalhou em inúmeras cozinhas. A cada vez que o surto de febre aparecia, ela se mudava novamente, deixando um rastro de vítimas e mortes.

Por nove anos ela escapou das autoridades e continuou seu trabalho do coração, alimentar as pessoas (eventualmente, matando-as no processo).

Em 1915 um surto de febre tifoide surgiu no Sloane Hospital para Mulheres, 25 pessoas infectadas, duas mortas. Ela fugiu novamente, mas foi capturada pela polícia.

Os registros indicam 3 mortes causadas, mas como ela mudava de nome frequentemente, e sua ação ter coberto grande área, a estimativa mais realista seria de pelo menos 50 fatalidades.

Dessa vez Mary permaneceu presa até o final de sua vida, em quarentena permanente. Ela morreu em 1938, com 69 anos em decorrência de um AVC. Tirando a paralisia causada pelo ataque, ela estava em perfeita saúde. Mas ainda com tifo.

Conclusão em tempos de novo Coronavírus: não sejam essa mulher.

 

Artigo sobre Mary Marlon

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3959940/

 

2 comentários sobre “Typhoid Mary e o novo Coronavírus

  1. Interessante que você cita um artigo científico no final, mas parece que não o leu. Seu texto critica a Mary Mallon, enquanto o artigo científico critica o Estado e os médicos que a trataram de forma antiética.

  2. Olá Cabeça Livre

    Eu gosto de manter ideias alternativas sempre, não sou dono da verdade. Mas neste caso não é bem assim. O artigo embora faça algumas considerações ´éticas, não apresenta uma alternava melhor para o caso de Mary.

    Ela poderia ser operada, ela poderia não trabalhar com produção de comida, ela teve alternativas apresentadas, mas escolheu se esconder e continuar as atividades de risco. Esse é um caso extremo, em uma época não apenas diferente, mas com poucas alternativas.

    Hoje temos coisas como aposentadoria por doença, que permitiriam alguém assim viver sem ter de trabalhar em atividade de risco a terceiros, tratamentos etc. Mas, mesmo assim, se alguém nessa situação insistisse em colocar outros em risco, seria necessário agir, a sociedade agir, dentro de seu direito a proteção.

    Por isso vc não aceitaria uma cozinheira infectada com Tifo em seu restaurante ou casa, por isso exigiria um atestado de saúde para contratação em sua empresa (em qualquer empresa) de alimentos, por isso temos regras e leis de saúde pública.
    As questões éticas levantadas são válidas, mas o artigo não refuta ou contradiz o meu.

    Um abraço.

Deixe um comentário